Em um remoto 1980, no posfácio de 'Os faróis invisíveis', quinto livro de poemas de Péricles Prade, eu citava estes versos - 'O vício é medula / de suposto sabor / A ele me devoto / [...] resistindo sempre'. Poderiam ser epígrafe de 'Espelhos gêmeos'.
Comentava - 'O vício é também per-versão e in-versão, o contrário do previsível, o solapamento do 'natural', do estabelecido e da sequência lógica do discurso', a propósito de poemas 'povoados de paradoxos, descrições de aberrações, variando desde a perversão manifesta até agressões mais sutis contra aquilo que seria a ordem 'natural' das coisas'.
Citava Roland Barthes, em Par lui même - 'A Lei, a Doxa, a Ciência não querem compreender que a perversão, muito simplesmente, torna feliz; ou então, mais precisamente, produz um mais - torno-me mais sensível, mais perceptivo, mais loquaz, distraio-me mais etc., e neste mais vem situar-se a diferença (e a partir daí o Texto da vida, a vida como texto)'.
E Severo Sarduy, em 'Escrito sobre um corpo', sobre a'transgressão do pensamento' - 'A única coisa que a burguesia não suporta, o que a 'tira dos eixos', é a ideia de que o pensamento possa pensar sobre o pensamento, de que a linguagem possa falar da linguagem, de que um autor não escreva sobre algo, mas escreva algo'.
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