História do Livro
A arte de mandar trata sobretudo de uma reinterpretação das antigas categorias e classes gramaticais, em função do valor que têm na frase. Consideremos o seguinte exemplo: encontram-se várias pessoas reunidas; uma delas prepara-se para cantar, mas as restantes continuam a falar; um dos ouvintes impõe-se e grita: “ – Silêncio!Vai tanger a lira do poeta.” (Conde Barão, 42) Em que classe gramatical deveremos agrupar aquela forma “Silêncio!”, que traduz neste caso uma “ordem”? A gramática tradicional ou a considera entre os substantivos ou a inclui, única e simplesmente, entre as interjeições, contudo, tal expressão não cabe nem numa nem noutra classe de palavras, e sim nas duas ao mesmo tempo.
Consideremos, então, a expressão como um nome interjecional, de caráter ativo, equivalente a uma verdadeira frase, sendo ela própria o predicado. Mas se a compararmos com as interjeições propriamente ditas, tais como schiu, pst etc., notamos logo uma grande diferença: enquanto estas estão desprovidas de qualquer conteúdo significativo, apenas adquirido de acordo com as circunstâncias, aquela evoca sempre um significado e associa-se à ideia de “estar calado”, de “ausência de ruídos”.
Orientados pelo ponto de vista funcional e pelas variadas formas de expressão linguística, verificaremos que o domínio da linguagem ativa ultrapassa em muito o plano gramatical do imperativo e do vocativo. A Lexikon Editora publica A arte de mandar em português com o objetivo de mostrar a riqueza de formas de que dispõe a língua portuguesa para expressar a noção da ordem, buscando apoio teórico e documental fornecidos por textos literários de autores portugueses e brasileiros.
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