QUEM VIVEU INTENSAMENTE OS ANOS 70 está condenado a não e lembrar deles.
Prefácio (...)
Pelo menos não inteiramente. Há uma ironi grande nisso, uma ironia tão... anos 70 muito pouca Porque foi uma década de experiências, com intermediação. Não importava, realmente, se havia ou não registro, memória, inventário do que se experimentava. A captura do momento fugaz, em toda a sua intensidade, era privilégi e tormento de cada uma, de cada um. Não eram experiências m para serem lavradas em ata.
Eram para ser carregadas no mais si fundo da alma.
Uma coisa interessante acontece quando nos abandonamos d assim tão completamente ao vôo do instante: ele assume as se características do sonho, algo muito nítido guardado numa d outra realidade que não conseguimos mais habitar inteira- mente mas temos certeza de que existe, existiu.
Na nitidez da distância, os anos 70 aparecem com uma importância que não se suspeitava: as raízes das delícias e dos horrores do novo século estão inteirinhas ali. O triunfo do corpo, o terror político Interatividade e crise do petróleo. Fartura, escassez. Aiatolás no Irã, um mentiroso na Casa Branca. A pos- sibilidade de uma sociedade mais justa, com lugar para as vozes de mulheres, homossexuais, crianças, jovens, místicos, alterna- tivos, e a realidade de sociedades em que nada disso era sequer o esboço de uma vontade.
Ao organizar fragmentos e vestigios desses portentos e expe- riências, quis em primeiro lugar, como nos 70, evitar a inter- mediação. Quis salpicar toda a viagem com o material de origem, deixar os personagens, os incidentes, os detalhes falarem por si mesmos, com suas próprias vozes. Por isso, também, não há menções ao futuro, ao que acontece depois com nossos personagens.
É como se nada existisse depois de 1979, porque, em 1979, nada existia depois, apenas possib lidades e alguns medos. Pode-se abrir este Almanaque e lê-lo em qualquer pedaço, em qualquer ordem cada experiência é uma experiência. (...)
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