Carta De Pero Vaz De Caminha
A Carta de Pero Vaz de Caminha é a legítima certidão de nascimento do Brasil, de suas contradições, de seus problemas, de seus engodos. A seus olhos, os que aqui viviam eram ingênuos, pacíficos, tendentes por natureza a se converterem ao catolicismo. A história se mostrou outra. A terra não era pequena, como pensava Caminha (Pedro Álvares Cabral a chamou de Ilha de Vera Cruz). Os índios não estavam propensos à conversão (apenas não entendiam o que ocorria). A carta é, portanto, uma história da incompreensão mútua entre portugueses e indígenas. Os portugueses viram o que queriam ver, apenas: uma terra cheia de ouro, um povo propenso a se submeter ("Isto tomávamos nós assim por assim o desejar", diz Caminha)
Dois fatos chamam atenção. A frase "Em se plantando, tudo dá", não é exatamente assim (a frase é: "Águas são muitas, infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem"), o que revela que o dom da terra não era sua fertilidade, mas as muitas águas. Por fim, ao terminar a carta, Caminha aborda um problema pessoal com o rei Dom Manuel: seu genro, Jorge de Osório, foi degredado pela Justiça na ilha de São Tomé, e Caminha pede, em retribuição aos bons serviços que prestou à coroa, que ele seja trazido de volta para Portugal.
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