Na literatura de Paulo Mendes Campos, a prosa encontra a poesia em sua busca frenética pelo instante precioso, pela frase iluminadora e pela cena que define o seu supremo amor pela vida - e seu ódio ao tédio.
O Mineiro de Belo Horizonte radicado no Rio de Janeiro não economiza em seu louvor à beleza e em seu ataque à chatice, ao lugar-comum, ao conservadorismo paralisante. COmo diz em ?Anatomia do tédio?: ?Este talvez seja em nossos dias a poluição do espírito, a poluição global. NEssa cultura estercada é que a torpeza espiritual do homem produz a flor plástica do tédio, embora seja imperativo de verdade reconhecer que suas florações mais visíveis e típicas não ocorram nas favelas e vilas operárias; nos balcões mais altos da sociedade é que vamos encontrar o que um rico poeta americano chamou o enfado celestial dos apartamentos?.
USando a técnica enumerativa - em que o sujeito X é coalhado de adjetivos Y -, em ?Da arte de ser infeliz? PMC estabelece o primado do homem medíocre: ?Sua psicologia: todo homem tem seu preço. SUa economia: poupar os tostões. SOciologia: o povo não sabe o que quer. FIlosofia: o seguro morreu de velho. O Homem perfeitamente infeliz ama os seus de um amor incômodo ou francamente insuportável?, ensina. Mas nem tudo, ou melhor, quase nada é rancor nesta escrita ligeira, clara e sem nada de solene. COntraditoriamente ao título, em O amor acaba Paulo Mendes Campos demonstra como o lirismo pode começar em qualquer lugar - basta ter olhos para ver a beleza em um bar, em um decote, em um andar, na forma como se desperta em um domingo. Como observa o professor da USP Ivan Marques no posfácio à edição de O amor acaba, ?Paulo Mendes Campos ajudou a alargar os limites do gênero.
PAra ele, de fato, crônica podia ser tudo: tanto as digressões líricas e cômicas como as páginas de reflexão dedicadas à condição humana, às novidades do mundo moderno, às descobertas científicas e antropológicas etc. LEitor cultíssimo e atualizado, o cronista-ensaísta tem alma de pesquisador, vocação para inventar teorias e disposição para pensar sobre tudo [...]?.
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